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Escadinhas do Quebra Costas

(con)Viver com Doenças Inflamatórias do Inflamatórias do Intestino. Aventuras, desventuras e muita galhofa! Que a rir custa menos e por isso "Sou feliz só por preguiça."

Escadinhas do Quebra Costas

(con)Viver com Doenças Inflamatórias do Inflamatórias do Intestino. Aventuras, desventuras e muita galhofa! Que a rir custa menos e por isso "Sou feliz só por preguiça."

17 de Março, 2017

Quem engana quem?

Vera Gomes

Esta semana foi uma semana longa. Viagem de trabalho, dois dias num evento em que quase perdi a voz de tanto responder a perguntas, mal consegui comer porque o que havia não dava para mim. E os dias são todos de gestão constante para não perder o equilíbrio: se trabalhar mais horas ou de forma mais intensa, não dá para arriscar um bocadinho que seja na comida. Se arriscas na comida, é bom que tenhas o corpinho descansado senão a coisa descamba. 

 

Cheguei na quarta por volta das 22h30 a casa. Ontem resolvi ir trabalhar mais tarde. Cheguei ao escritório um pouco antes das 9h30. Saí já passavam das 19h. O máximo que consegui para respirar foi meia hora para ir buscar uma salada e comê-la no parque para aproveitar um bocadinho do dia solarengo que estava. 

 

Passei o dia a tentar manter os olhos abertos, com moinha no corpo todo como se 2 camiões de 18 rodados tivessem

passado a noite a fazer manobras em todas as partes do meu corpo. Senti-a a cabeça pesada, o corpo pesado e uma vontade enorme de me enroscar e dormir. 

 

Tinha uma lista imensa de coisas para fazer até porque na próxima semana estarei novamente fora em trabalho. Consegui fazer tudo o que tinha para fazer. Os dois colegas que estiveram comigo em Berlim, tiraram o dia. Um deles respondeu a um email meu com a frase "Bolas! Que energia! Como consegues?". O meu primeiro instinto foi responder: "esteróides?". Não o fiz. Passei o dia a responder emails, organizar reuniões, eventos, fazer relatórios, reuniões com os chefes, preparar o que se segue. Nos entretantos ainda falei com o meu médido e enfermeira para fazer medicação hoje, falei com a mamã que tinha saudades, tratei de assuntos relacionados com as férias que se aproximam, lidei com frustações de colegas, com as minhas. Aqueci água para fazer chá, mas nem cheguei a pôr a água na caneca. 

 

Ao fim da tarde o meu chefe dizia-me à frente de um colega: "impressionante a energia que esta mulher tem! Ninguém a pára!". Mal ele sabia que naquele momento eu estava prestes a colapsar e dormir porque já não aguenava de cansaço. Mesmo assim trabalhei ainda quase duas horas. Vim para casa e fiz o jantar porque o meu mais que tudo foi correr e o combinado é: quando ele corre, eu cozinho.

 

A seguir ao jantar aterrei. Dormi 9h seguidas. Noite abençoada. Já não sabia o que isso era há mais de uma semana. 

 

Tirei a manhã de hoje para descansar. Que é como quem diz: desfazer malas, lavar roupa, ir à farmácia, mais uns mails por causa das férias, mais arrumar um bocado a casa, ir ao supermercado. E isto... apenas de manhã, porque à tarde foi tempo de visitar o meu amigo "Esteves" no hospital. 

 

Diz-me a Enfermeira: "está com mesmo aspecto". Penso eu: claro que estou: consegui dormir uma noite, tenho todos os truques e mais algum de maquilhagem na cara, claro que pareço bem. Mas será que estou bem? Hoje foi um dia bom, mas nem sempre é assim. A única pessoa que vê os dois lados da moeda, é o G. que leva com os cacos quando chego a casa e desvaneço no sofá. Doenças invisiveis são mesmo assim: por fora tudo o que se vê é boa disposição, um sorriso, energia. Haverá outra forma de lidar com isto? É que eu não sei lidar com isto de outra forma! Parar é morrer. Abrandar, talvez (e sim, já abrandei muuuuito). Por isso, se alguém tem ideias, venham elas!