Quem engana quem?
Esta semana foi uma semana longa. Viagem de trabalho, dois dias num evento em que quase perdi a voz de tanto responder a perguntas, mal consegui comer porque o que havia não dava para mim. E os dias são todos de gestão constante para não perder o equilíbrio: se trabalhar mais horas ou de forma mais intensa, não dá para arriscar um bocadinho que seja na comida. Se arriscas na comida, é bom que tenhas o corpinho descansado senão a coisa descamba.
Cheguei na quarta por volta das 22h30 a casa. Ontem resolvi ir trabalhar mais tarde. Cheguei ao escritório um pouco antes das 9h30. Saí já passavam das 19h. O máximo que consegui para respirar foi meia hora para ir buscar uma salada e comê-la no parque para aproveitar um bocadinho do dia solarengo que estava.
Passei o dia a tentar manter os olhos abertos, com moinha no corpo todo como se 2 camiões de 18 rodados tivessem
passado a noite a fazer manobras em todas as partes do meu corpo. Senti-a a cabeça pesada, o corpo pesado e uma vontade enorme de me enroscar e dormir.
Tinha uma lista imensa de coisas para fazer até porque na próxima semana estarei novamente fora em trabalho. Consegui fazer tudo o que tinha para fazer. Os dois colegas que estiveram comigo em Berlim, tiraram o dia. Um deles respondeu a um email meu com a frase "Bolas! Que energia! Como consegues?". O meu primeiro instinto foi responder: "esteróides?". Não o fiz. Passei o dia a responder emails, organizar reuniões, eventos, fazer relatórios, reuniões com os chefes, preparar o que se segue. Nos entretantos ainda falei com o meu médido e enfermeira para fazer medicação hoje, falei com a mamã que tinha saudades, tratei de assuntos relacionados com as férias que se aproximam, lidei com frustações de colegas, com as minhas. Aqueci água para fazer chá, mas nem cheguei a pôr a água na caneca.
Ao fim da tarde o meu chefe dizia-me à frente de um colega: "impressionante a energia que esta mulher tem! Ninguém a pára!". Mal ele sabia que naquele momento eu estava prestes a colapsar e dormir porque já não aguenava de cansaço. Mesmo assim trabalhei ainda quase duas horas. Vim para casa e fiz o jantar porque o meu mais que tudo foi correr e o combinado é: quando ele corre, eu cozinho.
A seguir ao jantar aterrei. Dormi 9h seguidas. Noite abençoada. Já não sabia o que isso era há mais de uma semana.
Tirei a manhã de hoje para descansar. Que é como quem diz: desfazer malas, lavar roupa, ir à farmácia, mais uns mails por causa das férias, mais arrumar um bocado a casa, ir ao supermercado. E isto... apenas de manhã, porque à tarde foi tempo de visitar o meu amigo "Esteves" no hospital.
Diz-me a Enfermeira: "está com mesmo aspecto". Penso eu: claro que estou: consegui dormir uma noite, tenho todos os truques e mais algum de maquilhagem na cara, claro que pareço bem. Mas será que estou bem? Hoje foi um dia bom, mas nem sempre é assim. A única pessoa que vê os dois lados da moeda, é o G. que leva com os cacos quando chego a casa e desvaneço no sofá. Doenças invisiveis são mesmo assim: por fora tudo o que se vê é boa disposição, um sorriso, energia. Haverá outra forma de lidar com isto? É que eu não sei lidar com isto de outra forma! Parar é morrer. Abrandar, talvez (e sim, já abrandei muuuuito). Por isso, se alguém tem ideias, venham elas!