Porque somos coragem, força e determinação
Esta semana comecei a colaborar proximamente com um grupo de pessoas que pretende sensibilizar para pessoas com "disability". Escrevo a palavra em inglês propositadamente, porque normalmente é traduzida para português como deficiência, e na verdade, disability é mais do que isso.
Segundo a Convenção das Nações Unidadas, artigo 1: "'Persons with disabilities include those who have long-term physical, mental, intellectual or sensory impairments which in interaction with various barriers may hinder their full and effective participation in society on an equal basis with others'."
No regresso a casa depois da primira reunião deste grupo, um rapaz, com paralisia cerebral que necessita de duas muletas e tem alguns problemas com o equlibrio, disse-me que ia para casa a pé. Perguntei-lhe onde morava porque ainda tinha que andar um pouco até ao transporte e que o acompanhava. Descobri que na verdade ele mora ao pé de mim. Era uma caminhada no minimo de 40m a pé para uma pessoa normal e tinhamos uma paragem de autocarro logo ali.
Explicou-me que em Bruxelas as pessoas nao são muito simpáticas e que normalmente ele tem problemas quando anda de transportes públicos. Não se consegue segurar se for de pé, é dificil de encontrar um lugar para se sentar e quando pede que lhe cedam o lugar destinado a deficientes como no dia anterior, é insultado e já foi agredido.
Senti-me muito pequenina. Muito mesma. Fomos os dois a pé. Demoramos mais de uma hora a fazer um percurso que teria feito em 15 de autocarro. Conheci um ser humano com um coração maior do que o mundo, corajoso, destemido. Fez mais do que muito boa gente. Continuará certamente a fazer. Para mim, um herói! Uma inspiração, que mesmo a minha luta sendo diferente da dele, tem o mesmo objectivo: tornar este mundo um lugar mais igualitário, um lugar em que as pessoas são respeitadas nao importa o quê.
Hoje começa a semana de sensbilizaçao para doenças do intestino que decorre de 1 a 7 de Dezembro. Faz igualmente 1 ano que comecei a escrever abertamente sobre a minha doença. E há umas semanas 10 anos sobre o meu diagnóstico.
Eu hoje estou bem. Amanhã posso não estar. Ontem não estive. Há doenças que nao se vêem mas estão lá. E limitam-nos e transformam-nos. E há gente estúpida. Que nos agride com palavras, gestos (in)acções. Por mim, por ele, por nós, é que eu escrevo e continuarei a escrever. Porque podemos estar de certa forma condicionados, mas nunca seremos nem mais nem menos gente!