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Escadinhas do Quebra Costas

(con)Viver com Doenças Inflamatórias do Inflamatórias do Intestino. Aventuras, desventuras e muita galhofa! Que a rir custa menos e por isso "Sou feliz só por preguiça."

Escadinhas do Quebra Costas

(con)Viver com Doenças Inflamatórias do Inflamatórias do Intestino. Aventuras, desventuras e muita galhofa! Que a rir custa menos e por isso "Sou feliz só por preguiça."

11 de Setembro, 2017

Ñão há dois sem três: o diário do Cocó, as dietas e uma leitura!

Vera Gomes

Os pacientes de DII são bombardeados diariamente com sugestões de dietas que prometem ajudar e fazê-los sentir melhor: é a SCD, é a paelo, é a vegan, enfim... uma panóplia! Sobretudo as pessoas que são recentemente diagnosticadas têm muitas dúvidas sobre o que comer ou não comer, e procuram na internet respostas às perguntas que têm que a maioria das vezes os médicos não respondem. 

 

A verdade é que a dieta no caso dos pacientes com Chron ou Colite Ulcerosa não é fácil de prescrever. As intolerâncias de cada um são diferentes. Cada um reage de forma diferente à comida. Quando corre mal, os sintomas agravam-se. Muitos advogam que com esta ou aquele tipo de dieta, tirando isto ou aquilo, comendo aquilo ou aquele outro que ficarão impecáveis. Mas confesso não acredito nem por um instante. Acredito que a comida tem influência no número de diarreiras diárias ou cólicas que temos. Senão, apelemos ao bom senso: uma pessoa normal sem qualquer

problema de saúde come feijão. Qual é a piada que toda a gente faz? "Estás a carregar a arma!", que é como quem diz, vais andar a peidar-te como se não houvesse amanhã. Agora imaginem alguém que tem uma sensibilidade no sistema digestivo ou somente no intestino beeeeem acima da média. Pois... não há milagres, não é? 

 

Pois... eu costumo responder quando vejo perguntas nos milhentos grupos de apoio a malta das DII em que estou inserida sobre "o que devo comer? que dieta devo seguir?" o seguinte: Primeiro fala com o médico e testa intolerâncias. É normal pessoal das DII desenvolver intolerância à lactose, por exemplo. Depois mantêm o diário do cocó, onde diariamente apontas sintomas (idas ao wc, consistência fezes, sangue, muco, cólicas, enfartamento, inchaço, dores cabeça, etc etc etc) e apontas aquilo que comeste (ou depois de teres já uma base o que comeste diferente do habitual). Será fácil de perceber a até certo ponto, que comndo certos alimentos os sintomas diminuem. Quando a doença estiver estabilizada é voltar a reintroduzir novamente (gentilmente e não à bruta) como corre a coisa (tal e qual como se faz com os bebés quando começam a ingerir sólidos). Ficam aqui duas páginas do meu diário do cocó que mantive durante a minha crise. Não tenho a parte de alimentação antada porque foram dias que não introduzi nada de novo.

 

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 Além disso, o diário do cocó ajuda imenso a explicar nas visitas ao médico exactamente como nos sentimos, que sintomas tivemos, quantas idas ao wc e como correram. Sem esquecer nadinha. Eu faço uma espécie de sumário entre consultas a anoto perguntas que queira fazer ou esclarecer com o médico (eu sei, a minhas anotações parecem pinturas ruprestes, mas eu percebo e é o que importa; e sim, uma mistura de ingles e frances ). Ora vejam outra página do diário do cocó, o sumário numa altura não muito distante que fazia via o médico de duas em duas semanas:

 

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E para terminar, que isto já vai longo, deixo-vos um (longo mas excelente e factual) artigo que saiu no Público (traduzido do original que foi publicado no The Guardian) sobre as últimas dietas da moda e necessidade de comer super saudável.

 

Giles Yeo – que no seu programa na BBC cozinhou com Ella Mills uma receita de batata-doce picante – é da opinião que muitas das receitas de “comida limpa” são até “uma maneira saborosa e cool de comer vegetais”. O problema, diz Yeo, é que estes autores não se limitam a dizer “este é um óptimo livro de receitas vegetarianas”, e fazem afirmações mais vastas acerca da capacidade dos vegetais para tornar as pessoas mais bonitas ou prevenir doenças. “O veneno está no facto de eles embrulharem tudo em pseudociência”, acusa Yeo. “Uma base de falsidades leva as pessoas a tomarem medidas drásticas, e é aí que os problemas começam.”

 

No comboio para casa vim a pensar no que tinha acontecido. Percebi que as pessoas estavam irritadas connosco não por discordarem do que estávamos a dizer (é difícil não concordar que receitas “sem açúcar” não deviam ter açúcar), mas porque não gostaram sequer de nos ver a contestar o assunto. Insistirmos em factos fez-nos parecer cruelmente negativas. As pessoas tinham vindo para absorver de Shaw uma “bolha de brilho”, e nós estávamos a rebentá-la. É impressionante como em muitos livros de receitas de “bem-estar” a ciência estabelecida em torno da alimentação é vista mais ou menos como irrelevante, em parte porque os gurus vêem a complacência da ciência como um dos factores que tornaram os nossos regimes alimentares tão maus.

 

Quanto aos doentes das DII,  a malta já tem carências que chegue: falem sempre com o vosso médico, que fará analises regulares para perceber as carências de nutrientes que têm e prescrever os suplementos que precisem. Cada um é livre de fazer o que quiser, como é óbvio, apenas deixo o alerta para terem cuidado, porque nem tudo o que reluz é ouro e não há dieta nenhuma que vos vá curar o Chron ou a Colite. Além disso, a nossa situção é muito específica com carências normais tendo em conta o nosso estado de saúde. Eliminar alimentos que até toleram pode ser contraproducente. Se precisarem de ajuda, procurem um nutricionista (daqueles a sério e inscritos na Ordem) especialista em Doenças Inflamatórias do Intestino (sim, há muitos, tal como alguns gastroentrologistas que não percebem um boi de DII). A APDI poderá ser um bom começo. 

 

 

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