Façam o que fizerem: NUNCA comecem uma segunda assim!
Só hoje consigo escrever sobre isto porque foi muita coisa junta para processar:
1) foi de manhã beeeem cedo e a ainda a recuperar do jetlag
2) foi o primeiro dia útil depois das férias
3) foi uma segunda-feira!
Bom. Depois de ter acordado às 5 da matina e ter tirado o cuzinho da cama às 6h20, lá cheguei ao hospital por volta das 8h15. De manhã começa o dia, sem sombra de dúvida! Plano das festas: exame com uma neurologista seguido da tradicional visita ao Esteves. A visita ao Esteves é pacífica, ou não fosse um ano e meio de experiência apaziguador. O que me leva a escrever-vos esta humilde missiva foi a visita à neurologista.
Ora pois então, neurologista. Senhora simpática, nos seus 50 e muitos anos/ 60 e poucos, gentil como tudo. Depois de algumas perguntas e de lhe explicar o que ali me levava, pediu-me para me despir da cintura para baixo. Nunca é uma coisa muito simpática, mas noblesse oblige, e uma pessoa lá se livra das calças, das meias e por uns momentos, manteve-se a dignidade de manter as cuecas.
Toca aqui, martelinho ali, vire-se de barriga para baixo. E pimbas: uma agulha enfiada numa nádega e uma máquina a guinchar como se tivesse a ser torturada quando na verdade quem era a torturada era a minha nádega com uma agulha fininha lá enfiada. Confesso que não estava a achar nenhuma piada àquele ruído ensurdecedor. Não feliz e contente, e depois de anunciar num tom triunfal que a ádega estava impecável (abençoado treino que tive com as paletes de injecções de penincilina e B12 no passado), muda a agulha torturadora para o tendão na parte detrás na perna. Espeta a agulha e a p*** da máquina (que a esta altura eu já não estava a achar muita piada) recomeça com a chincalheira de ruídos histéricos enquanto os meus tímpanos tentavam controlar-se para não desatarem a praguejar à moda de uma peixeira do Bolhão.
A neurologista lá anunciou do alto das suas décadas de prática: "está tudo bem também com o nervo ciático. Só falta ver mais uma coisa." Finalmente, pensei eu. "Tire as suas cuecas." Logo comecei a ponderar onde ela me iria enfiar na agulha, e aquela sensação momentânea de alívio rapidamente se tornou numa sensação de ânsia e pânico.
Pediu-me para me deitar sobre o meu lado esquerdo em posição fetal. Ri-me e comentei: "a mesma posição das colonoscopias". "Isso mesmo", respondeu ela. E eu, naquele entorpocimento matinal, embriagada por algo que me era familiar, nem pensei do que aquilo poderia significar.
Eis que de repente sinto dois dedos a entrarem-me pela cavidade anal. Assim a deslizar suavemente (abençoado lubrificador que os médicos usam), e a senhora, que até parecia ser um doce, revelou-se uma grande cabra fofinha e querida. Começou a mexer os dedos no meu interior enquanto perguntava "sente dor?". Sou sincera: fiquei confusa. Porque não sei como é que ela espera enfiar os dedos no cu de alguém, andar a remexer lá dentro e ninguém sinta dor! Só me apetecia gritar: "Estás com os dedos dentro do meu cu! É claro que sinto dor, caralho!". Mas controlei-me, e acabei por responder: "nada diferente do que seria esperado" enquanto fazia um sorriso amarelo, àquela (cabra) velhinha e doce que apenas fazia o seu trabalho.
Lá me recompus do exame e fui para o Esteves, mas sempre com a sensação que os dedos da (cabra) velhinha continuavam dentro de mim. Segunda de manhã, cedo, depois de três semanas de férias, acreditem: ninguém merece!
(Ah! e ainda por cima continuo sem saber porque raio tenho dor numa nádega!)