A ti prima!!!!
Chorar o quê, quando não se pode e quer?
Pensar o quê, quando se vive o nada?
Ouvir o quê, faça-se o que fizer?
Olhar o quê, quando não se vê nada?
O melhor é esquecer e prosseguir.
O objectivo supremo, inalcançável,
Perde-se todo entre o ir e vir,
Tornando-se apenas memorável.
O sonho rui pelo pensamento!
Cresce a agonia num só momento!
Ficando, eu, tristonho e pensativo...
Suspiro e grito, enfim, um só lamento!
Sinto um melancólico sentimento!
Desespero, num esforço cansativo...
(João de Barros)
Desvio dos teus ombros o lençol
que é feito de ternura amarrotada,
da frescura que vem depois do Sol,
quando depois do Sol não vem mais nada...
Olho a roupa no chão: que tempestade!
há restos de ternura pelo meio,
como vultos perdidos na cidade
em que uma tempestade sobreveio...
Começas a vestir-te, lentamente,
e é ternura também que vou vestindo,
para enfrentar lá fora aquela gente
que da nossa ternura anda sorrindo...
Mas ninguém sonha a pressa com que nós
a despimos assim que estamos sós!
(David Mourão Ferreira)