05 de Maio, 2006
Crise Lamentável - Mário Sá Carneiro
Vera Gomes
Gostava tanto de mexer na vida,
De ser quem sou mas de poder tocar-lhe...
E não há forma: cada vez perdida
Mais a destreza de saber pegar-lhe.
Viver em casa como toda a gente
Não ter juízo nos meus livros mas
Chegar ao fim do mês sempre com as
Despesas pagas religiosamente.
Não Ter receio de seguir pequenas
E convidá-las para me pôr nelas ?
À minha Torre ebúrnea abrir janelas,
Numa palavra, e não fazer mais cenas.
Ter força um dia pra quebrar as roscas
Desta engrenagem que empenando vai.
Não mandar telegramas ao meu Pai,
Não andar por Paris, como ando, às moscas.
Levantar-me e sair não precisar
De hora e meia antes de vir prà rua.
Pôr termo a isto de viver na lua,
Perder a frousse das correntes de ar.
Não estar sempre a bulir, a quebrar coisas
Por casa dos amigos que frequento ?
Não me embrenhar por histórias melindrosas
Que em fantasia apenas argumento
Que tudo em é fantasia alada,
Um crime ou bem que nunca se comete
Por meu Azar ou minha Zoina suada...
Poemas Dispersos, Paris, Janeiro
De ser quem sou mas de poder tocar-lhe...
E não há forma: cada vez perdida
Mais a destreza de saber pegar-lhe.
Viver em casa como toda a gente
Não ter juízo nos meus livros mas
Chegar ao fim do mês sempre com as
Despesas pagas religiosamente.
Não Ter receio de seguir pequenas
E convidá-las para me pôr nelas ?
À minha Torre ebúrnea abrir janelas,
Numa palavra, e não fazer mais cenas.
Ter força um dia pra quebrar as roscas
Desta engrenagem que empenando vai.
Não mandar telegramas ao meu Pai,
Não andar por Paris, como ando, às moscas.
Levantar-me e sair não precisar
De hora e meia antes de vir prà rua.
Pôr termo a isto de viver na lua,
Perder a frousse das correntes de ar.
Não estar sempre a bulir, a quebrar coisas
Por casa dos amigos que frequento ?
Não me embrenhar por histórias melindrosas
Que em fantasia apenas argumento
Que tudo em é fantasia alada,
Um crime ou bem que nunca se comete
Por meu Azar ou minha Zoina suada...
Poemas Dispersos, Paris, Janeiro