Eu sei. Devo ser doida para dizer que ter tido consulta adiada, exames adiados e andar com o coração nas mãos "ai se apanho o sar-cov-2" foi a melhor coisa que me aconteceu. Mas a verdade, é que estar em casa há já 9 semanas (NOVE SEMANAS) tem-se revelado ter sido espectacular para lidar com uma Doença Inflamatória do Intestino. Sobretudo quando estava a chegar a um limite de exaustão fisica e mental (e uma inflamação a dar sinal de vida no intestino) prestes a atirar-me para uma nova estadia por tempo indeterminado nas boxes.
Por isso, no dia em que faz NOVE semanas que estou em casa em teleworking, partilho convosco NOVE razões pelas quais, ter ficado em quarentena, isolamento (ou lá o que lhe queiram chamar) foi a melhor coisinha que me podia ter acontecido para a gestão diária da minha Colite Ulcerosa:
1) Casa de banho acessível
Estando por casa não há aquele stress "será que chego a tempo a um wc?" porque o WC está sempre ali. Disponível e próximo. Ok. É certo que em fases mais fodidas nem isso nos vale, mas não deixa de ser um grande alívio saber que há uma casa de banho perto sempre que se precise.
2) Dormir mais
Pois é: poupa-se no tempo de deslocação para o trabalho, ganha-se no tempo em que se fica na cama. E ó se isso faz diferença! É uma grande ajuda ter mais uma hora de descanso por dia. Ajuda imenso!
3) Sestas
E quando dá aquela sensação de fadiga que uma pessoa olha para o ecrã de computador e vê tudo desfocado? Altura de fazer uma pausa, deitar-se no sofá e fazer uma sesta de 15 a 30 minutos antes de voltar ao trabalho mais fresca e funcional.
4) Menos stress, mais calma
Como agora é tudo virtual, não tenho que andar a correr de reunião em reunião, não sou interrompida frequentemente, logo produzo mais e acabo por não andar tão stressada com prazos. Volta e meia vou à janela, ao jardim ou à cozinha, duas festinhas ao cão e bye bye stress. Níveis muito mais baixos. O meu gastro deve estar muito orgulhoso de mim!
5) Melhor alimentação
Todas as refeições são feitas em casa. Logo muito mais fácil para manter uma alimentação saudável e evitar alguns ingredientes que me deixam a tripa às voltas. É que cá em casa, com ajuda de sites, livros de receitas e blogs de culinária, não há dois pratos iguais em pelo menos duas semanas. E uma pessoa até se esquece do que não pode comer! Nem tão pouco tem a sensação que tem limitações na hora de alimentar o corpinho.
6) Mais eu, menos nós
Não me interpretem mal: sou uma pessoa extremamente social. Adoro estar com os amigos, falo com toda a gente, desde o porteiro à senhora da cafetaria, à seretária, ao director, etc. Só que... esgota-me. Tudo o que sejam interacções sociais, confesso, suga-me lentamente a energia ao longo do dia. O facto de estar sozinha mais horas, sem interrupções, faz também com que chegue ao final do dia com mais energia. Logo...
7) Disponível para fazer coisas a seguir ao jantar
... como não gasto as pilhas todas ao longo do dia, a seguir ao jantar já não aterro no sofá como era hábito. Então fica mais tempo livro para ler, ver televisão, discutir com o Mais Que Tudo sobre temas filosóficos como "produção artesanal da cerveja" ou "reacções químicas na cozinha". Não perguntem: somos dois seres estranhos em co-habitação!
8) Mais tempo para o corpo
Ora, como não ando sempre a correr e tenho uma hora de almoço inteira para usufruir, acabo por mexer mais o corpo. Porque tenho um cão que precisa de ir à rua e não perdendo tempo em deslocações ao final da tarde, permite-me fazer caminhadas mais longas, quasi diárias, com o cão. Ele fica cansado, eu mexo o corpo, toda a gente ganha! E claro, mais motivação para os exercicios que o PT do demo me enviou para garatir que a minha lombar continua operacional!
9) Mais tempo para os amigos
Pode parecer um contrasenso com o ponto nº6, eu sei. Mas não é! Os amigos sempre estiveram à distância de um telefonema. E continuam a estar. A grande vantagem é que eu tenho tido mais tempo para eles porque ando menos cansada e mais disponível mentalmente para duas de conversa. Durante as caminhadas longas, aproveito sempre para fazer a ronda e ir sabendo como estão e pôr a conversa em dia (menos com aqueles que sei que ODEIAM falar com telefone). Alguns já conhecem o hábito que já me perguntam quando atendem: "estás a passear o cão?". Porque mesmo longe e sem poder viajar e visitar família e amigos, com todas as tecnologias ao nosso dispôr é só parvo que não tenhamos tempo para escutar aqueles que sempre estão connosco quando precisamos. Obrigada :)
E desse lado? Quais os pontos positivos no meio disto tudo?