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Eleições em Portugal e mais uma vez a grande vencedora, a bater recordes de participação, foi a abstenção. Confesso que isto me faz muita confusão, em parte porque, na minha opinião, abstenção não é forma de protesto: protesto é ir às urnas e votar em branco. Abstenção é só um "não quero saber" e um "não em importo" misturado com uma gigantesca falta de percepção de como o voto, seja ela válido, nulo ou branco, tem impacto e é uma verdadeira forma de protesto.
Somos todos muito revolucionários e muito activistas... nas redes sociais. Mas quando chega a hora de tirar o cu no sofá, como cantavam os Deolinda, "vai andando que eu já lá vou ter".
As eleições são o momento em que os cidadãos escolhem quem querem que os represente, os defenda e lute por eles. Ficar em casa, ir à praia ou encolher os ombros e dizer que o seu voto não importa para nada, dá o resultado de uma maioria absoluta. Uma maioria de quem não quer saber, de quem aceita ser governado por quem foi escolhido pelos outros. Se não participam na vida pública de nenhuma forma, com que direito reclamam?
É certo que muitos dirão que há uma descrença total nas instituições e não há ninguém no cenário político com quem se identifiquem. Nesse caso, votem em branco. Isto se depois de lerem os programas eleitorais de facto não terem nenhuma proposta com a qual se consigam identificar.
Clramente apeloo ao voto ou até botõeszinhos especificos para o dia nas redes sociais, não está a ter o impacto que teve noutros países no aumento de votantes. É certo que o número de eleitores aumentou por causa do recenseamento automático de eleitores e por isso, no valor bruto haverá mais gente recenseada do que em 2015. No entanto, mesmo tendo isto em conta, o número de abstenção é demasiado elevado. Deixo, por isso, algumas sugestões para aumentar a participação pública dos cidadãos:
1) Educação Cívica
Aulas à séria de educação civica. Com professores devidamente habilitados para o fazer e não com professores, como alguns com quem me cruzei no inicio deste ano, que nem sabiam quem era o Presidente da Comissão Europeia. É importante que se perceba desde pequeno como podem participar na vida pública e lutar, enquanto cidadãos, pelas causas em que acreditam. O lobby, palavra a que se foge a sete cruz por ser tão mal compreendida, é também possível pelos cidadãos!
2) Voto electrónico
Há coisas que não consigo perceber. É possível saber onde se está recenseado via SMS ou online, mas não se pode votar em qualquer outra mesa de voto. Mesmo estando recenseada no Porto, porque é que não posso votar em Lisboa? Afinal de conta, sabem que o meu voto irá contar na mesma para o circulo do Porto.
O ideal mesmo seria voto online, mas é compreensível que por razões de segurança não seja possível (ainda) fazê-lo. Mas pronto: aprendam com a Austria, a Venezuela e até o Brasil, e ponham em vigor o voto electrónico. Afinald e contas andam há mais de 10 anos a tentar perceber se é possível....
3) Eleições nulas
Eleições onde metade dos portugueses não votam, deveriam ser consideradas nulas e não ter poder vinculativo. É certo que as razões da crescente abstenção dariam um longo debate, contudo, Portugal, mais uma vez não aprende com a História e todas as páginas escritas sobre o facto de quanto mais madura uma Democracia, menor o nível de participação. Aconselho vivamente a lerem F. Hayek e o livro "O Caminho da Servidão".
4) Voto obrigatório
Se a coisa não vai lá por educação nem por algumas facilidades logisticas, olhem-se para outros países, não muito distantes de Portugal, em que o voto é obrigatório. Ou seja, só em casos muitos especificos é permitida a abébia de não votar. E caso não se justifique (a justificação é antecipada) nesse caso, há multa por não se votar. Exemplo: Bélgica.
Li recentemente que pessoas que participam e contribuem para a vida pública são mais satisfeitas com as suas vidas pessoais e que a particopação na vida pública tem um dos maiores efeitos na felicidade a longo prazo. Olhando para os números da abstenção nos últimos anos, deve ser por isso que o povo português é exímio no eterno saudosismo lusitano....