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Escadinhas do Quebra Costas

(con)Viver com Doenças Inflamatórias do Inflamatórias do Intestino. Aventuras, desventuras e muita galhofa! Que a rir custa menos e por isso "Sou feliz só por preguiça."

Escadinhas do Quebra Costas

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06 de Outubro, 2007

Viagem à India

Vera Gomes

Apesar de já ter passado uma semana, as marcas são ainda muito recentes. Esta foi de facto uma viagem que nunca esquecerei:

 

1 - O cheiro do aeroporto quando chegamos e a tentativa de dialogo com um policia que o melhor que conseguia dizer soava a grunhidos incompreensível e enigmáticos;

 

2- O táxi que nos levou do aeroporto até ao hotel depois de termos estado uma boa meia hora à espera no aeroporto porque o hotel esqueceu-se de enviar o transfer para nos levar até lá. Claro que o ponto alto foi quando nos disseram da organização do congresso que teriam de nos acompanhar porque o taxista não sabia o caminho para o hotel. Claro que ao fim de 10 minutos a minha amiga percebeu que o cinto de segurança não funcionava e por isso, decididiu continuar completamente agarrada ao assento na vã esperança de chegarmos salvas ao hotel. As vacas na rua foram um pormenor de classe assim como a música que os carros indianos fazem sempre que metem marcha à ré.

 

3 - Os senhores do hotel também era muito... exóticos. Principalmente depois de lhes perguntar se podia trocar dinheiro no hotel. Claro que aí, extremamente atenciosos, insistiam em que lhes dessemos o dinheiro que eles fariam o câmbio. Três caramelos às 3h no quarto, não é propriamente a minha concepção de comissão de boas vindas.

 

4 - Quando finalmente se consegue algum sossego e pode começar a desempacotar a mala e pôr-me mais confortável, começa a minha amiga aos gritos na casa de banho "ai um bicho! tira-o ou nao saio daqui". E lá tive de ir à casa de banho ver o que se passava. Era nada mais nada menos que uma lagartixa morta, já meio para o seca, e ela continuava a gritar enrolada numa toalha dentro da banheira. Lá tive de fazer um funeral tipo cremação só que sem fogo e na sanita.

 

5 - O ter dito mais do que uma vez aos empregados do hotel que não queriamos ser perturbadas de manhã, e ter colocado o letreiro "Privacy Please" na porta do lado de fora do quarto não adiantou de nada. Logo às 7 da manhã (umas duas hora depois de nos termos deitado) começam a tocar à campainha do quarto e a bater à porta. Mesmo sem conseguir abrir os olhitos lá fui ver o que se passava. Eis que me deparo com um indiano a falar inglês a 300km/h e eu sem perceber patavina até porque simplesmente o meu neurónio nem sequer estava ligado. De repente, só percebi que tinhamos 15 minutos para nos arranjarmos e ir para o congresso... E o telefone começa a tocar. Era o empregrado do hotel que nos tinha importunado quando chegamos a dizer que estava no hotel o senhor para trocar o dinheiro (euros para rupias). Lá nos arranjamos o mais rapido possível, trocamos dinheiro com um fulano que apesar de nos dizerem que era do banco parecia um chulo, e apanhamos o autocarro para o recinto do congresso.

 

6 - Depois de tratarmos da papelada com o congresso e de conseguirmos um passe para a minha amiga, porque nem por sombras a ia deixar sozinha no hotel, deambulamos pelo congresso até aterrarmo nuns sofás a beber café e chá preto que ressuscitava um morto, até que o rapazinho (Shaik) que nos tinha recebido no aeroporto nos encontrou. Duas de conversa coisa e tal e fomos almoçar. Quem encontramos na zona do almoço? O Shaik! Ficamos logo a conhecer metade dos colegas da universidade dele porque estavam lá todos a trabalhar. E simpaticamente tentaram arranjar-nos comida comestível. A minha amiga já tinha vomitos com a quantidade de picante que o arroz tinha e eu entreti-me a beber sumo de melancia...

 

7 - Como tinham avisado que durante a tarde não havia autocarros, em virtude da grandiosa festa de 10 dias que estava a decorrer na cidade, resolvemos ficar pelo congresso a fazer tempo para a noite cultural que iria ocorrer nessa noite no âmbito das actividades promovidas para os participantes no congresso. Para nosso grande espanto o Shaik que encontramos por acaso disse-nos que a noite cultural havia sido cancelada. E aí começou a aventura de 5 horas para conseguirmos chegar ao hotel, entre furar barricadas de policia e esgueirar-nos a pé por entre os convivas na tentativa de não reparem em nós.

 

8 - Jantar num restaurante italiano. Ementa que mais parece um livro do Lobo Antunes. Carne e peixe nos ingredientes, nem vê-los. Pizza de queijo com queijo, queijo com rodelas de tomate, queixo com cogumelos, sopa de broculos: eis o nosso jantar.... A fome, segundo dizem, é a melhor cozinheira e pelos menos não era picante.

 

9 - Dia seguinte: dia de compras. Lá fomos nós acompanhadas pelos nossos 3 novos amigos, felizes e contentes, em carro de vidros fumados, proibidas de abrir as janelas às compras. Melhor compra: saree! Adorei! Os tecidos, as cores, os bordados à mão. Lindos! A ourivesaria também não era má, mas mesmo sendo muito mais barato do que cá, acreditem que as joias, repletas de diamantes, safiras, esmeraldas, etc continuavam a ser um pouco puxadas para a minha carteira.

 

10 - As únicas lojas com mulheres que vmos e entramos foram as lojas dos sarees. Até no alfaiate que fez o top para o meu saree apenas trabalhavam homens que esboçavam sorrisos de troça timidos por o chefe me estar a tirar medidas em zonas mais privadas do que, pelo menos eu, estou habituada. Mas fez um bom trabalho, embora, claramente, não chegue aos calcanhares das obras primas da minha mamã. Ponto alto do dia: Pizza Hut ao jantar! Aquele pão de alho com queijo (porque bacon só em sonhos) estava uma delicia! A unica pizza com carne, a de frango, uma maravilha! E aquele bocadinho de bolo enrolado no chocolate derretido, de comer e chorar por mais! Por mim, até tocava mais do que uma vez no sino para demonstrar o quão satisfeita estava! Ponto negativo: as medidas de segurança que se tornavam ridiculas. Só por sermos ocidentais, até tinhamos que despejas as mochilas....

 

11 - Dia 3 inteiramente reservado ao congresso uma vez que foi o dia da minha apresentação que por sinal correu muito bem. Dia sem grandes aventuras, excepto aquela no KFC em que o frango era picante e o empregado designadp para satisfazer todos os nossos desejos não tirava os olhos de nós, as ocidentais.

 

12 - Suposto último dia na India. O dia foi tirado para visitar alguns monumentos e como dizia a minha amiga: para fazermos fotos bonitas para mostrarmos quando chegarmos a casa. Uns monumentos nem podiamos sair do carro porque ficavam bem no meio do mercado mulçumano e por isso, não era seguro para duas ocidentais sequer espreitarem pelo vidro meio aberto. Outros, ficavam no meio da favela. Lindamente arranjandos, depois de entrar era como se entrassemos num mundo à parte.  Fruto das excentridades de um rei, sem sombra de dúvida que vale a visita, se não for mais, pela vista. Ponto reles: os chatos dos guias a tentarem convencer-nos a comprar os seus serviços, ao ponto de eu ameaçar um deles com porrada para nos deixar em paz. À saida, as miudas a pedir, os velhos, as mulheres que mal nos viram, não nos largaram, puxaram-nos os braços, batiam nas janelas do carro. De facto, não damos valor à sorte que temos e só nos apercebemos, a maior parte das vezes quando vemos o desespero e a miséria dos outros.

 

13 - Depois de um jantar no restaurante chinês do Marriot e de ameaças de não pagar a conta caso a nossa comida tivesse picante, lá foi tempo de ir ao hotel buscar as malas e rumar ao aeroporto. Tudo teria corrido bem, não fosse o nosso voo estar em overbooking! Entre muita discussão e lágrimas, lá ficamos mais uma noite na India, num hotel 5 estrelas com tudo pago, a relaxar e descansar, enquanto esperavamos pelos nossos três mosqueteiros para nos acompanharem, mais uma vez, até ao aeroporto.

 

14 - Desta viagem, fica sobretudo a noção que mais vale cair em graça do que ser engraçado. E as recordações, boas e más, da viagem mais estranha que fiz até hoje tornam uma semana da minha vida em algo completamente inesquecível. Ficam os amigos para a vida, as recordações e um desejo de rever aqueles que foram os nossos heróis.

 

Por curiosidade, ainda não comi frango desde que voltei....