A descrição do meu café, por João Falcato
Sabem aquele café que tão forte está que se excita a ele próprio?
Aquele café que depois de mexido a colher faz sexo com ela própria?
Esse mesmo!
Uma vez fizeram-me uma coisa dessas. E que coisa
Valeu pelo aproveitar da vida, pois estive uma semana acordado. Uma semana inteirinha!...
Ainda me lembro das pulsações, dos batimentos cardíacos, da exaltação do coração, das tremuras das pernas
Sabem aquele café que só de cheirar dá vontade de correr sem parar? Um gajo corre pelo mundo e mais mundos pede para percorrer porque o que existe lhe parece curto
É desse café que eu falo!
Senti-me o Lucky Luke: mais rápido que a própria sombra. Eu disparava antes de pegar na pistola. Aquilo é que foi
Dei por mim a partir em cima da mota e a chegar a casa primeiro que ela.
Nunca mais vou esquecer aquele café, nunca mais!...
Aquilo foi uma coisa do outro mundo, apesar de ter existido neste. Colheres de café dentro daquela chávena era mais que muitas. Houve necessidade de compactar o café para caber o açúcar e a água.
Parecia uma massa consistente, rígida, onde a colher não precisava de arreios, nem de estacas, nem tampouco de pregos para se segurar.
Tipo argamassa, estão a ver?
Agora imaginem o que aquela mistura faz ao mais comum dos mortais Um gajo renasce! Eu renasci, renasci, renasci e renasci acreditem!... Um verdadeiro viagra para o corpo humano, menos para onde deveria ir.
Eu fui, voltei, fui e tornei a voltar sem sair do mesmo sítio. Eu tenho a sensação de ter andado mais rápido que o tempo.
E tudo por causa de um simples (?) café "
Escusado será dizer que nuncamais lhe fiz café...